Neiff Satte Alam

E a educação básica?

Por Neiff Satte Alam
Professor, biólogo e especialista em informática na educação
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Afogada em desacertos, desconectada da realidade e pulsando por soluções urgentes, definha a educação básica brasileira. As conexões que faltam para um salto de qualidade estão à nossa frente e não conseguimos perceber por absoluta falta de um pensamento não-linear e dentro dos princípios da complexidade, como propõem os grandes pensadores destes últimos cinquentas anos, pelo menos.

Criamos universidades públicas e particulares em um número surpreendente neste século 21, colocamos nestas instituições de forma direta e indireta milhões de reais, preparamos um verdadeiro "salão de festas" para os jovens universitários que, em um dos maiores vestibulares do mundo, o Enem, habilitaram-se a vagas no Ensino Superior.

Tudo perfeito… Só que não, pois esqueceram-se os governantes, ao editarem suas políticas para a educação, que não existem boas universidades sem alunos de nível elevado de formação nas unidades de educação básica.

Os alunos egressos do Ensino Médio estão com sua construção de conhecimento e competência comprometida pelas deficiências de uma educação básica, que ficou esquecida em algum escaninho dos gestores públicos desta área.

A falta de atenção a este segmento gerou professores desestimulados: sem nenhum programa que permitisse crescimento profissional (muitos ainda sequer profissionalizaram o ofício de ensinar) _ "todas as profissões são ofícios, ainda que o inverso não seja verdadeiro"; as baixas remunerações dos professores das redes públicas de ensino, principalmente nas esferas estaduais e municipais, determinaram um êxodo em direção a outras atividades, diferentes daquela para a qual se formaram, mas que ofereciam melhores remunerações; a responsabilidade da Educação Fundamental, por força de lei, passou a ser dos municípios, mas sem um aporte financeiro adequado da União, pois o existente, o Fundeb, não é suficiente para atender a demanda de ensino nesta área, fazendo cair a qualidade do ensino; o mesmo ocorre com o Ensino Médio, responsabilidade dos estados.

Sem a formação continuada necessária, a maioria dos professores ainda estão trabalhando dentro de uma visão linear e sem a compreensão de que complexidade e competência estão de mãos dadas e para que isto passe a fazer parte das práticas pedagógicas há que se mudar a forma de pensar, pois construção de competências e determinismo estão em correntes opostas, assim como não-linearidade e linearidade. Estudar muito e permanentemente faz parte da função de ensinar, assim como trabalhar as informações dando-lhes significado para que os alunos construam o seu conhecimento e não sejam meros repetidores daquilo que ouvem e/ou leiam, principalmente que aprendam a refletir sobre as ações, já antes destas ocorrerem e também após a ocorrência destas.

Mesmo depois de dois anos e meio de um ensino remoto, provocado por uma grave crise sanitária, parece não ter sido entendida a necessidade de uma revolução no sistema de ensino e, principalmente, na forma de pensar sobre a urgente inserção das novas tecnologias de informação. A urgência deste entendimento está relacionada diretamente com a qualidade do estudante egresso da educação básica e que se habilite a ingressar na universidade ou mesmo no sistema de trabalho com chances reais de sucesso profissional, em direção a uma cidadania plena, segura e conquistada por seus méritos.

Por fim, é fundamental associarmos a tudo isto um sistema de avaliação que cumpra com seu papel para que não sejam aprovados alunos sem as mínimas condições de darem sequência aos necessários processos de construção de conhecimento, de construção de competências e uma consistente prática de ação reflexiva. Aí, então, ingressamos no futuro e concluímos que o Ensino Superior é uma conquista resultante de uma educação básica de qualidade. Caso contrário, é o caos.

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